quinta-feira, 14 de julho de 2016

Cuidados Paliativos e a Psicologia

O paciente sempre deve ser entendido como um ser biológico, social, psicológico e espiritual, de maneira única e indivisível, devendo ser tratado em todas estas esferas, visto que a desorganização de uma delas provoca alteração em todas as outras. Devido a essa condição em que se encontram os pacientes, é necessário que além dos pacientes, os familiares e os próprios colaboradores do Hospital de Câncer de Barretos também tenham o auxílio da equipe de psicologia.

A equipe de psicologia é também responsável por colaborar com a humanização no delicado trabalho em equipe, de decisões conjuntas e trabalhos que se completam, integrando-se e proporcionando uma abordagem mais abrangente de cuidados ao paciente e à sua família.


Assistência Ambulatorial em Cuidados Paliativos


No momento em que os pacientes apresentam recidivas tumorais, metástase e são caracterizados dentro dos critérios de protocolo(como pacientes fora de possibilidade de cura e/ou com dor crônica), eles são encaminhados ao ambulatório do Hospital São Judas Tadeu para avaliação.

No ambulatório da unidade existem dois ambientes de espera: um para os pacientes acamados que precisam repousar e outro para os que podem permanecer sentados. Nestes ambientes são realizadas avaliações médicas e da equipe, mas os pacientes geralmente ainda não sabem o motivo pelo qual foram transferidos de unidades e como será o tratamento de agora em diante – já que essas informações serão dadas apenas pelo médico responsável.

O papel do psicólogo num primeiro momento em atendimento ambulatorial é o de acolher, estabelecer vínculo, familiarizar pacientes e familiares ao “novo” e desmistificar crenças sobre a Unidade de Cuidados Paliativos. Em um segundo momento, faz-se necessário identificar, trabalhar, diagnosticar e propor melhorias as demandas de cada paciente e, caso haja necessidade de intervenção psiquiátrica, o paciente é encaminhado ao serviço da cidade de origem.

Assistência de internação em Cuidados Paliativos

Os pacientes em estágio avançado da doença podem sofrer impacto psicológico devido ao estigma em ser considerado um paciente “terminal”. Como esses quadros, surgem alguns sintomas como:


  • Medo da degeneração e decadência do corpo
  • Medo do isolamento
  • Abandono ou do futuro dos familiares
  • Interrupção prematura de planos e metas de vida
  • Medo da separação
  • Medo da própria morte
  • Finitude da vida
  • Perda da autonomia e identidade
  • Sentimento de impotência
  • Fracasso
  • Desesperança
  • Desamparo
  • Solidão
  • Medo da mutilação
  • Limitações
  • Dor
  • Medo do sofrimento físico causado pelo agravamento do quadro clínico
  • Intervenções invasivas e desconhecidas

O trabalho da psicologia inicialmente é de acolhimento inicial ao paciente e ao cuidador após sua chegada na Unidade, avaliação das alterações emocionais e comportamentais dos pacientes internados encaminhados pelos médicos ou por profissionais da equipe multidisciplinar, acompanhamento familiar e suporte a equipe.

O psicólogo pode ser um elemento facilitador para que o paciente possa falar melhor de suas idéias, necessidades ou temores. A escuta atenta ao paciente e/ou familiar pode nortear a idéia do acolhimento, da continência, sentir-se aceito e respeitado o que pode ser um elemento principal no alivio do sofrimento. Ao mesmo tempo em que se processa a escuta atenta, devemos favorecer a possibilidade de expressão dos sentimentos presentes.

As famílias também passam por diversos estágios, coincidentes ou não com os vividos pelos pacientes. Ocorrem problemas de comunicação, isolamento e confusão nos papéis familiares. Em cuidados paliativos, a família deve ser acolhida nestes momentos de intenso sofrimento em que se está vivendo a perda do paciente, bem como poder falar sobre a sensação de impotência diante do sofrimento e da dor.

Assistência domiciliar em Cuidados Paliativos oncológicos

Podemos observar que a prática em atendimento domiciliar na área da saúde vem crescendo, nos setores público e privado, tendo vantagens diversas, como a relação custo-benefício e a humanização aplicada ao tratamento. 

O Hospital de Câncer de Barretos conta hoje com o Programa de Assistência Domiciliar Semanal aos pacientes que residem em Barretos no momento e que, devido às debilitações, dificultam o acesso até ao hospital. Por questões burocráticas, essa assistência é dividida em Visita Domiciliar e Internação Domiciliar.

Os pacientes que passam por atendimento ambulatorial e que apresentam os critérios necessários para o ingresso no Programa de Assistência Domiciliar, são definidos como pacientes de Visita Domiciliar. Já aqueles pacientes que ficam internados por um período na enfermaria do hospital e se enquadram também nos critérios de Assistência Domiciliar, se tornam pacientes de Internação Domiciliar após sua alta hospitalar. A diferença da atuação da equipe em ambas as categorias é a mesma. Porém, os pacientes de Internação Domiciliar, geralmente necessitam de cuidados mais intensos da enfermagem.

O atendimento domiciliar (também conhecido como Home care) é um trabalho que envolve orientação à família e ao responsável pelos cuidados prescritos ao paciente, sendo uma modalidade de atuação ainda pouco conhecida. O papel do psicólogo é avaliar as necessidades do tratamento, compreender e traduzir as necessidades do paciente para facilitar o relacionamento do mesmo com a equipe de saúde responsável. 

A assistência em Cuidados Paliativos prevê o acompanhamento do paciente e familiar também no processo de luto, buscando acolher a família mesmo após a morte. A idéia é tirar o estigma comum: impedir que os familiares sintam-se esquecidos ou mesmo abandonados pela equipe, depois que o paciente vem a óbito. Para tanto, a equipe de psicologia do Hospital de Câncer de Barretos trabalha com famílias enlutadas, realizando um “fechamento” de todo esse processo, fazendo-a reconhecer que a sua participação foi importante para o paciente que faleceu.

Para realizar esse trabalho, a equipe de Assistência Domiciliar do Hospital de Câncer de Barretos realiza visitas e contatos com as famílias durante dois meses após o óbito do paciente. Esse processo abre um processo de acolhimento da equipe e para a equipe, fazendo com que a partilha da dor e a elaboração da recuperação e aceitação ocorram de maneira mais amena. Quando o psicólogo sinaliza complexidade aparentemente irreversível no luto vivenciado pela família, é proposta uma avaliação ambulatorial com alguns membros e, se necessário, o familiar é encaminhado para o departamento de Psiquiatria e Saúde Mental de Barretos.

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